Por Fernanda Martins Silveira (a pedido)
Ireni relata que caminhou cerca de 8 quilômetros pela mata fechada e lavouras da região. Ela contou ainda que estava descalça e seus pés ficaram cortados. Para continuar a caminhar, ela dividiu o sutiã em dois e amarrou na planta dos pés, improvisando calçados. Após quase 24 horas, chegou a uma estrada vicinal e foi ajudada por um casal que passava pelo local. Ela foi encontrada com o ferimento na cabeça, apresentando hematomas no olho direito, abdômen e nas pernas, além de escoriações e cortes por todo o corpo, ocasionadas pela caminhada através da mata cerrada. No vilarejo, várias pessoas se mobilizaram para socorre-la e, enquanto esperavam a ambulância, o agressor chegou no local procurando pela vítima e só não a localizou porque moradores a esconderam.
Após, ela foi levada ao Hospital de Araguacema e encaminhada ao Hospital Regional de Paraíso, onde recebeu os primeiros socorros. Os projéteis esféricos de chumbo ficaram alojados em sua cabeça e a vítima aguarda nova avaliação médica, que decidirá se ela será submetida ou não à cirurgia. Hoje Ireni se encontra com quadro de infecção tópica no local do tiro.
Testemunhas relataram que foram recebidas inúmeras ligações nos hospitais de Araguacema e Paraíso, nas quais o agressor dizia que era primo da vítima e que ela havia desaparecido na noite anterior, simulando preocupação, pedindo que os funcionários lhe avisassem imediatamente caso ela desse entrada no hospital. Ireni contou à Polícia Civil que as agressões físicas e psicológicas ocorriam há vários anos e que o ex-companheiro já havia a ameaçado de morte, inclusive, em certa ocasião, depois de surrá-la, fez com que a vítima cavasse a própria cova, pois, iria mata-la a machadadas.
![Ireni-Almeida-Chaves-A1-1024x673 Relato e sofrimento de vítima que sofreu tentativa de feminicídio choca moradores de Araguacema Ireni-Almeida-Chaves-A1-1024x673 Relato e sofrimento de vítima que sofreu tentativa de feminicídio choca moradores de Araguacema](http://www.atitudeto.com.br/wp-content/uploads/2021/01/Ireni-Almeida-Chaves-A1-1024x673.jpg)
A vítima convivia em união estável com o agressor, que é casado com outra mulher. Segundo Ireni, quando descobriu que Bukoski era casado, tentou terminar o relacionamento, mas ele não aceitou o fim da relação. O caso chama a atenção pois, há aproximadamente 9 anos, Bukoski obrigou tanto sua esposa quanto a vítima a conviverem juntas, sob o mesmo teto, alegando que não tinha condições de manter duas casas distintas. Desde então, as duas mulheres e os cinco filhos conviviam juntos e o agressor mantinha relacionamento amoroso com ambas. Entretanto, para a sociedade, o investigado apresentava Ireni como “prima” e a esposa como mãe dos quatro filhos menores.
Passagem pela polícia
O suspeito negou a autoria do crime e alegou que Ireni tinha problemas psiquiátricos e que ela estaria tentando lhe extorquir dinheiro. Jonas Bukoski já foi preso e condenado duas vezes pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul, por circulação de dinheiro falso na região de Passo Fundo. Ficou preso 7 dias e foi solto mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 9.330,00. A pena de 4 anos e 1 mês de reclusão foi substituída por prestação de serviços comunitários. Ele aguardava a realização de audiência admonitória para iniciar o cumprimento da pena, quando veio a praticar a tentativa de homicídio. A Polícia Militar chegou a efetuar diligências para localizar o agressor, contudo, num primeiro momento ele evadiu da região e, depois de alguns dias, se apresentou na Delegacia de Polícia acompanhado de advogado, para prestar depoimento.
![Ireni-Almeida-Chaves-A3-1024x728 Relato e sofrimento de vítima que sofreu tentativa de feminicídio choca moradores de Araguacema Ireni-Almeida-Chaves-A3-1024x728 Relato e sofrimento de vítima que sofreu tentativa de feminicídio choca moradores de Araguacema](http://www.atitudeto.com.br/wp-content/uploads/2021/01/Ireni-Almeida-Chaves-A3-1024x728.jpg)
Em redes sociais, Bukoski se apresentava como engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual da California, mas, segundo a vítima, ela jamais viu o diploma da universidade americana e nem mesmo fotos da época em que ele alega que estudou fora do país. A investigação também apurou que Jonas Britto Bukoski é procurado pela Justiça Cível do Rio Grande do Sul, para responder a diversos processos de cobranças de dívidas que, somadas, ultrapassam a um milhão de reais, se atualizados os valores.
Agressor em liberdade
Ireni foi acolhida e atualmente está escondida, pois, o agressor está em liberdade, andando livremente pela cidade. Ela relata que desde os fatos, não viu mais as filhas, que permanecem na casa do ex-companheiro. Quando foi levada para ser morta, a vítima saiu da casa trajando apenas um vestido, deixando a bolsa com seus pertences e que o ex-companheiro se recusa até mesmo em devolver os documentos pessoais de Ireni. Ela relata ainda que após o crime, o ex-companheiro usou o telefone dela para trocar a senha do e-mail pessoal e redes sociais da vítima. Quando ela recuperou o acesso, constatou que foram apagadas inúmeras conversas privadas suas, e-mails, fotos e vídeos do casal, estando ele de posse e fazendo uso do aparelho telefônico dela. Que num primeiro momento, após sair do hospital, pensou em retirar a queixa e fugir da cidade, por temer que, em represália, ele atentasse contra a vida da filha mais velha; queria apenas que ele lhe ajudasse a se estabelecer num outro local. Mas depois de ser acolhida e receber o apoio de conhecidos, além de assistência psicológica e jurídica, ela se encorajou a prestar novo depoimento à Polícia Civil, dando detalhes dos fatos e o histórico das agressões que sofreu. Ela gravou um vídeo que circulou nas redes sociais, relatando o sofrimento e as dificuldades da vida que levava.
Solidariedade
Solidarizadas com a situação de Ireni, mulheres da cidade de Araguacema criaram grupos nas redes sociais e mobilizam uma manifestação para o próximo dia 14, em frente à Delegacia e ao Fórum, para pedir a prisão do agressor. Grupos com cerca de 600 participantes discutem formas de prestar ajuda à dona de casa, para que ela possa se tornar independente economicamente do ex-companheiro e lutar na justiça pela guarda das filhas e ter condições de cria-la sem a ajuda dele.