Por Fernanda Martins Silveira (a pedido)
Ireni relata que caminhou cerca de 8 quilômetros pela mata fechada e lavouras da região. Ela contou ainda que estava descalça e seus pés ficaram cortados. Para continuar a caminhar, ela dividiu o sutiã em dois e amarrou na planta dos pés, improvisando calçados. Após quase 24 horas, chegou a uma estrada vicinal e foi ajudada por um casal que passava pelo local. Ela foi encontrada com o ferimento na cabeça, apresentando hematomas no olho direito, abdômen e nas pernas, além de escoriações e cortes por todo o corpo, ocasionadas pela caminhada através da mata cerrada. No vilarejo, várias pessoas se mobilizaram para socorre-la e, enquanto esperavam a ambulância, o agressor chegou no local procurando pela vítima e só não a localizou porque moradores a esconderam.
Após, ela foi levada ao Hospital de Araguacema e encaminhada ao Hospital Regional de Paraíso, onde recebeu os primeiros socorros. Os projéteis esféricos de chumbo ficaram alojados em sua cabeça e a vítima aguarda nova avaliação médica, que decidirá se ela será submetida ou não à cirurgia. Hoje Ireni se encontra com quadro de infecção tópica no local do tiro.
Testemunhas relataram que foram recebidas inúmeras ligações nos hospitais de Araguacema e Paraíso, nas quais o agressor dizia que era primo da vítima e que ela havia desaparecido na noite anterior, simulando preocupação, pedindo que os funcionários lhe avisassem imediatamente caso ela desse entrada no hospital. Ireni contou à Polícia Civil que as agressões físicas e psicológicas ocorriam há vários anos e que o ex-companheiro já havia a ameaçado de morte, inclusive, em certa ocasião, depois de surrá-la, fez com que a vítima cavasse a própria cova, pois, iria mata-la a machadadas.
A vítima convivia em união estável com o agressor, que é casado com outra mulher. Segundo Ireni, quando descobriu que Bukoski era casado, tentou terminar o relacionamento, mas ele não aceitou o fim da relação. O caso chama a atenção pois, há aproximadamente 9 anos, Bukoski obrigou tanto sua esposa quanto a vítima a conviverem juntas, sob o mesmo teto, alegando que não tinha condições de manter duas casas distintas. Desde então, as duas mulheres e os cinco filhos conviviam juntos e o agressor mantinha relacionamento amoroso com ambas. Entretanto, para a sociedade, o investigado apresentava Ireni como “prima” e a esposa como mãe dos quatro filhos menores.
Passagem pela polícia
O suspeito negou a autoria do crime e alegou que Ireni tinha problemas psiquiátricos e que ela estaria tentando lhe extorquir dinheiro. Jonas Bukoski já foi preso e condenado duas vezes pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul, por circulação de dinheiro falso na região de Passo Fundo. Ficou preso 7 dias e foi solto mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 9.330,00. A pena de 4 anos e 1 mês de reclusão foi substituída por prestação de serviços comunitários. Ele aguardava a realização de audiência admonitória para iniciar o cumprimento da pena, quando veio a praticar a tentativa de homicídio. A Polícia Militar chegou a efetuar diligências para localizar o agressor, contudo, num primeiro momento ele evadiu da região e, depois de alguns dias, se apresentou na Delegacia de Polícia acompanhado de advogado, para prestar depoimento.
Em redes sociais, Bukoski se apresentava como engenheiro agrônomo formado pela Universidade Estadual da California, mas, segundo a vítima, ela jamais viu o diploma da universidade americana e nem mesmo fotos da época em que ele alega que estudou fora do país. A investigação também apurou que Jonas Britto Bukoski é procurado pela Justiça Cível do Rio Grande do Sul, para responder a diversos processos de cobranças de dívidas que, somadas, ultrapassam a um milhão de reais, se atualizados os valores.
Agressor em liberdade
Ireni foi acolhida e atualmente está escondida, pois, o agressor está em liberdade, andando livremente pela cidade. Ela relata que desde os fatos, não viu mais as filhas, que permanecem na casa do ex-companheiro. Quando foi levada para ser morta, a vítima saiu da casa trajando apenas um vestido, deixando a bolsa com seus pertences e que o ex-companheiro se recusa até mesmo em devolver os documentos pessoais de Ireni. Ela relata ainda que após o crime, o ex-companheiro usou o telefone dela para trocar a senha do e-mail pessoal e redes sociais da vítima. Quando ela recuperou o acesso, constatou que foram apagadas inúmeras conversas privadas suas, e-mails, fotos e vídeos do casal, estando ele de posse e fazendo uso do aparelho telefônico dela. Que num primeiro momento, após sair do hospital, pensou em retirar a queixa e fugir da cidade, por temer que, em represália, ele atentasse contra a vida da filha mais velha; queria apenas que ele lhe ajudasse a se estabelecer num outro local. Mas depois de ser acolhida e receber o apoio de conhecidos, além de assistência psicológica e jurídica, ela se encorajou a prestar novo depoimento à Polícia Civil, dando detalhes dos fatos e o histórico das agressões que sofreu. Ela gravou um vídeo que circulou nas redes sociais, relatando o sofrimento e as dificuldades da vida que levava.
Solidariedade
Solidarizadas com a situação de Ireni, mulheres da cidade de Araguacema criaram grupos nas redes sociais e mobilizam uma manifestação para o próximo dia 14, em frente à Delegacia e ao Fórum, para pedir a prisão do agressor. Grupos com cerca de 600 participantes discutem formas de prestar ajuda à dona de casa, para que ela possa se tornar independente economicamente do ex-companheiro e lutar na justiça pela guarda das filhas e ter condições de cria-la sem a ajuda dele.