“Na semiformação o educando se torna objeto em vez de sujeito, pois, apenas aprende o necessário para manter o sistema de dominação. Nesse sentido está banida a liberdade, a autonomia, a crítica e a reflexão”. João Nunes da Silva
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Em texto anterior tratei da cultura e sua complexidade e como a vida dos indivíduos e coletividades está diretamente relacionada à cultura. Neste artigo tratarei da cultura e de sua relação com a educação com foco no conceito de semiformação desenvolvido por Theodor Adorno (2003).
José Luiz dos Santos, em seu livro O que é cultura (2009, pag. 23) destaca que a cultura apresenta pelo menos duas concepções básicas: a primeira entende-a como todos os aspectos da realidade social e a segunda se refere as idéias e crenças de um povo.
A cultura como idéia e formação foi enfatizada pelo filosofo alemão Immanuel Kant. De acordo com seu entendimento a cultura se refere principalmente a um modo de vida baseado na necessidade do uso da razão para a emancipação humana.
Nesse sentido a cultura se mostra como algo refinado que condiz com uma ação prática voltada para o aprimoramento do ser, que por sua vez resulta na saída da menoridade para a maioridade.
Já Theodor Adorno destaca que a formação cultural advinda com o Iluminismo, também chamado de esclarecimento, foi amplamente apropriada pela classe dominante a qual instituiu um processo sistemático de dominação que se configura na semiformação.
Se a formação cultural está diretamente relacionada à idéia de esclarecimento e de emancipação a partir da razão, esta passou com o processo de industrialização a ser usada para a subjugação; ou seja, a educação, por exemplo, se transformou na principal forma de utilização das capacidades humanas para reproduzir uma sociedade desigual e injusta.
A semiformação criticada por Adorno nada mais é do que a descaracterização da formação para a autonomia. Com isso se tem uma sociedade onde a maioria é atada á idéia de educação para o trabalho de acordo com a lógica dominante estabelecida pelos capitalistas.
Na semiformação o educando se torna objeto em vez de sujeito, pois, apenas aprende o necessário para manter o sistema de dominação. Nesse sentido está banida a liberdade, a autonomia, a crítica e a reflexão.
Em vez de uma educação emancipadora se tem uma para o cativeiro, quando o ser humano, que é dotado de razão e capacidade de sentir, de pensar e de agir, passa a ser moldado para a manutenção de uma ordem social injusta e até violadora dos direitos humanos.
A formação permitida e imposta pelos dominadores desde os tempos longínquos não aceita o uso da razão para o questionamento e para a problematização da realidade, como é o caso da chamada “escola sem partido”. Por isso o foco no mercado materializado por meio de uma educação tecnicista a partir dos princípios positivistas e pragmáticos são exigidos nos planos de ensino, especialmente no que tanges às habilidades e competências.
A semiformação se mostra por meio de uma educação medíocre, ou uma educação para a mediocridade que prepara mentes e corpos dóceis para perpetuar o sistema vigente onde poucos se beneficiam enquanto a maioria “compra” a farsa da meritocracia e se aliena cada vez mais.