“Ninguém é obrigado seguir as idéias de ninguém como se fossem verdades absolutas; todavia, numa democracia de verdade e numa sociedade que se diz civilizada o respeito ao diferente é indispensável. A realidade demonstra que ainda não chegamos à civilização e uso da racionalidade ainda não permitiu sequer a capacidade de tolerância, quiçá do respeito.” João Nunes da Silva
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Um prefeito recém eleito para governar a maior cidade da America Latina usa a primeira oportunidade para falar para um dos principais jornais do país, logo após a confirmação do resultado das urnas, que logo levará chocolates para Lula na cadeia. Na mesma entrevista, também afirma que não acredita que algum tucano será preso, uma vez que citado na Lava Jato não é indiciado.
O prefeito eleito com isso evidencia a seletividade da justiça, ao mesmo tempo em que instiga o ódio aqueles tidos como inimigos. Essa é apenas uma das tristes demonstrações do grau de intolerância e de ódio que chegou nosso país, especialmente por parte da elite brasileira.
Hoje pela manhã me deparei nas redes sociais com uma triste imagem de um homem aparentemente bem vestido, pelo visto parecia um executivo, acompanhado de um colega, chutando um dos moradores de ruas da cidade de São Paulo. As imagens evidenciam tal atitude de ódio e de intolerância em relação aqueles que não têm sequer onde dormir.
Cotidianamente verifica-se a grande mídia atuando seletivamente e criminosamente contra um partido político, como forma de desmoralizá-lo e colocar a sociedade toda contra sua legenda e seus militantes. As imagens e reportagens são cuidadosamente selecionadas de modo a instigar o ódio contra o que considera uma abominação por pensar diferente.
O discurso de ódio se estende principalmente contra os movimentos sociais e partidos de esquerda. Essa história não é de hoje; na época da guerra fria era comum; agora tudo veio à tona novamente. Na democracia concebida pelas elites só vale quem está do seu lado, do contrário, a eliminação, principalmente de forma sistemática pelo discurso midiático se torna inexorável realidade.
É uma pena que a democracia no Brasil esteja nesse ponto, de modo que atitudes de intolerância ao outro, principalmente ao diferente, tenha se tornado lugar comum desde as últimas eleições presidenciais.
Todo o discurso sistemático eivado de ódio tem sido ecoado na sociedade, a ponto de se perceber nas redes sociais e nas ruas xingamentos, agressões físicas, formas de desrespeito diversas e perseguições a um partido político, as esquerdas e seus militantes.
Um senador foi agredido com sua esposa em um restaurante, uma senadora foi xingada e agredida fisicamente por um advogado num avião. Nas ruas indivíduos se acham no direito de agredir de toda forma possível aqueles que se mostram contrários a sua opinião.
Até onde vai tudo isso? Por que isso acontece de forma constante e a mídia, bem como a justiça se comportam como se assistissem de camarote tanta violência? Na verdade a grande parte da mídia tem sido a principal responsável por essa situação; afinal, os principais veículos de comunicação do país têm acesso constante em todos os lares.
Não to afirmando aqui que a teoria hipodérmica é absoluta em relação a comunicação, mas não se pode negar a influência da chamada grande mídia na sociedade em geral; pensar diferente disso é no mínimo ingenuidade.
Ninguém é obrigado seguir as idéias de ninguém como se fossem verdades absolutas; todavia, numa democracia de verdade e numa sociedade que se diz civilizada o respeito ao diferente é indispensável. A realidade demonstra que ainda não chegamos à civilização e uso da racionalidade ainda não permitiu sequer a capacidade de tolerância, quiçá do respeito.
O discurso de ódio e de intolerância já fez muito estrago na humanidade; quem ainda não se deu conta disso é só buscar na história o que fizeram os regimes como o fascismo, o nazismo, o stalinismo e as ditaduras.
Atitudes totalitárias, eivadas de ódio interessam para quem? Como se pode viver numa sociedade onde não se pode pensar diferente e não se tem o mínimo de respeito pelo outro?
Precisamos falar de nosso modo de vida; precisamos prestar mais atenção para onde estamos caminhando com essas atitudes e ações de ódio e de intolerância.
Se para aqueles que alimentam o ódio e atuam de forma seletiva para criminalizar partidos, militantes e movimentos sociais diversos, isso tem sido considerado comum, o que pensar do futuro de nosso país e das gerações futuras? É esse legado que queremos deixar?
Precisamos falar do tipo de democracia que temos, se é que ainda podemos considerar democracia. Precisamos de um mundo melhor, e o que estamos vendo é o caminho para o caos com tanto ódio e intolerância a flor da pele.
Não adianta ir para a igreja quando se considera o outro um inimigo a ser eliminado. Isso não condiz com nenhum ensinamento atribuído a Jesus. Você não precisar sequer ler a bíblia ou freqüentar uma igreja para saber disso; mas se você freqüenta uma igreja e vê o outro como seu inimigo, o que isso tem a vê com Deus?
Não adianta falar de democracia quando você só aceita sua opinião e sua posição como verdadeiras. Se você para viver precisa inferiorizar o outro com palavras e ações saiba que você é o primeiro a se mostrar inferior, pois ainda não chegou a grau da civilização.