Por Redação
Desde 2021, os moradores de Araguaína são orientados a não fazer o plantio de árvores da espécie Nim (Azadirachta indica A.Juss) nas vias públicas da cidade por causa dos riscos que elas geram para os passeios públicos e ao equilíbrio ambiental. Em agosto de 2022, o Município publicou o Decreto 140 autorizando o corte dos pés de Nim sem necessidade de autorização ambiental. Nas áreas públicas, a retirada é de responsabilidade da prefeitura e, em terrenos particulares, o proprietário pode proceder com o corte.
Filipe Silveira Condessa, engenheiro florestal da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente de Araguaína, explica que o Nim é uma espécie exótica e invasora, ou seja, que não é nativa do país.
“O nosso clima favorece a adaptação e a reprodução desregrada das árvores, o que pode gerar diversos prejuízos. Um deles são as raízes, que crescem proporcionais à copa, podendo romper e danificar calçadas e pavimentos, além de furar as tubulações subterrâneas”, informa o engenheiro florestal.
Outro prejuízo causado é o bloqueio na iluminação pública noturna devido ao tamanho da copa dessas árvores, gerando situações de risco para a segurança dos cidadãos.
Mas o problema pode ser maior
O Decreto 140/2022 também cita as propriedades químicas do Nim que podem gerar impactos graves na biodiversidade regional. O professor doutor Rômulo Augusto Guedes Rizzardo, do curso de Zootecnia da UFNT (Universidade Federal do Norte do Tocantins), lembra que há teses acadêmicas que mostram a toxicidade da espécie para insetos polinizadores, principalmente as abelhas.
“Muitas pessoas utilizam infusão de folhas de Nim, em água quente ou fria, como repelente e até inseticida para moscas e mosquitos. Contudo, foi percebido que essas propriedades letais também estão no pólen e no néctar da planta, que atraem abelhas, vespas, entre outros insetos que são fundamentais para a polinização das plantas na natureza”, conta o professor.
Rômulo ressalta que o pior nível de toxicidade observado foi na alimentação das larvas destes insetos. “No caso das abelhas, por exemplo, elas vão nas flores e coletam néctar e pólen para usarem como alimento no desenvolvimento das larvas. E o efeito de ambos é letal para as larvas, e em menor escala para os adultos, levando à morte e à diminuição da população”.
Poucas abelhas, poucos alimentos
De acordo com informações publicadas no site da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), 90% das plantas precisam de um agente externo, geralmente insetos, pássaros e morcegos, para fazer a chamada polinização cruzada e assim possibilitar a produção de frutos e sementes. A diminuição na população de abelhas pode levar a um cenário de grande redução na oferta de plantas, gerando um efeito cascata na vida de outros tipos de animais, incluindo um desequilíbrio ambiental com impacto no ciclo da água, regimes de chuvas e mudanças no clima.
Proliferação desenfreada
Ainda segundo o professor Rômulo, se houver muitos pés de Nim florescendo e poucas plantas nativas, as abelhas vou consumir mais esses recursos florais, aumentando as chances de contaminar a colmeia ou o enxame.
“O indicado é não plantar o Nim para evitar esse efeito letal. A espécie pode até causar a impressão de redução na quantidade moscas e mosquitos, mas afeta diretamente as abelhas. É preciso tomar um cuidado muito grande com esse desequilíbrio que o Nim pode causar e não há necessidade de continuar com o plantio desta espécie, sendo que há outras nativas que podem cumprir o mesmo papel”, conclui o professor.
Posso plantar o pé de Nim dentro de casa?
Orialle Barbosa, diretor de Fiscalização Ambiental da Prefeitura, lembra que o Decreto 140/2022 contempla apenas as árvores plantadas nas vias públicas. Mas o cultivo da espécie nos quintais pode gerar prejuízos para a residência.
“É preciso reforçar que as raízes do Nim são tão grandes quanto a copa da árvore e isso faz com que elas se alastrem com muita rapidez. Isso pode gerar danos às tubulações subterrâneas e até à estrutura da casa. Com frequência, recebemos pedidos de orientação sobre como retirar as árvores dos quintais, porque os moradores se arrependeram de plantar”, informa o diretor.
Como funciona a retirada de outras árvores em Araguaína?
Toda solicitação de retirada de árvores nas vias públicas passa obrigatoriamente pelo Departamento de Licenciamento Ambiental. O engenheiro florestal da prefeitura explica que, independentemente se o pedido parte de alguma secretaria ou da iniciativa privada, a equipe faz uma verificação presencial para avaliar as condições da planta.
“Se a árvore já estiver morta e em situação de apodrecimento, autorizamos o corte. E com bastante frequência estamos encontrando espécies atingidas por cupins, que são muito comuns na nossa região. Nestes casos, a retirada supervisionada precisa ser feita antes que a árvore caia sozinha, ou durante uma chuva, e ofereça riscos às pessoas e aos patrimônios”, pontua Filipe.
(Por Ricardo Sottero | Foto: Marcos Filho Sandes / Secom Araguaína)