Por Wesley Silas
O zootecnista e pecuarista Fernando Scotta, fundador da Scotta Consultoria Agropecuária, aborda as dificuldades enfrentadas pelas empresas familiares do agronegócio no Brasil em alcançar a continuidade geracional. Apenas 30% dessas empresas chegam à segunda geração, e somente 5% à terceira, em parte devido ao esvaziamento das populações rurais, fenômeno observado globalmente. Este desafio ameaça tanto a permanência das comunidades rurais quanto a sustentabilidade do agronegócio no país.
“Muitos pecuaristas trabalham intensamente com o intuito de crescer e construir patrimônio, acreditando que vão chegar aos 80, 90 ou até 100 anos, mas não envolvem os filhos no processo produtivo. Não trabalham para torná-los sucessores e, muitas vezes, os filhos acabam se tornando apenas herdeiros, o que gera inseguranças, prejuízos e vendas malfeitas”, avalia Scotta.
Fernando Scotta, zootecnista e pecuarista, discute os desafios enfrentados por empresas familiares no agronegócio brasileiro em relação à longevidade e sucessão geracional.
Fenômeno globalmente preocupante:
Dados do IBGE indicam que apenas 30% das empresas familiares no Brasil chegam à segunda geração, enquanto apenas 5% alcançam a terceira. Este cenário reflete um fenômeno globalmente preocupante de declínio das populações rurais, que afeta regiões agrícolas nos Estados Unidos, Europa, e também vastas áreas da África e Ásia.
O fenômeno já levou mais de 800 cidades japonesas a ficarem em risco de desaparecimento até 2040, devido à migração dos jovens para áreas urbanas. Na Espanha, a expressão “Espanha vazia” descreve a redução de 28% da população rural nos últimos 50 anos. No Brasil, o Banco Mundial relata um declínio de 33,8% na população rural de 2000 a 2022, superando a média global de 19,2%.
Tradicionalmente administrado por famílias, o agronegócio enfrenta desafios de sucessão que afetam sua própria sustentabilidade. Na União Europeia, mais de 90% das propriedades agrícolas são de gestão familiar. No Brasil, a falta de interesse das novas gerações e a percepção de poucas oportunidades no campo são dificuldades centrais.
Estudos do Ipea destacam outros obstáculos, como a complexidade na gestão das propriedades rurais, os altos custos de manutenção e investimento, além dos frequentes conflitos familiares. Estes fatores são cruciais para entender a dificuldade na transmissão intergeracional das propriedades agrícolas, essenciais para a economia global.