Por Wesley Silas
Passado, praticamente, 10 anos, dos assassinatos de dois jovens na porta do Colégio Municipal Antônio de Almeida Veras por acerto de contas na comercialização de drogas; agora a ameaça de violência contra as escolas enveredou para a idolatria de criminosos virtuais e têm como alvo as crianças, pré-adolescentes, adolescentes e educadores. Em todo Brasil o número de ataques em escolas já superou em 2022 e 2023 o total registrado nos 20 anos anteriores, aponta levantamento feito pela pesquisadora Michele Prado, do Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP (Universidade de São Paulo).
Na segunda-feira, 10, um aluno de 12 anos, matriculado em uma escola particular de Gurupi, talvez pela inocência da idade, exibiu aos seus colegas martelo, estilete e canivete. Neste mesmo dia começaram nas redes sociais troca de mensagens, muitas delas Fake News, disseminadas por pessoas mal-intencionadas com o intuito de provocar a sensação de insegurança e este excesso de informações negativas favorece o risco do efeito contágio por pessoas que têm predisposição para este tipo de violência.
Sobre a criança encontrada com materiais cortantes em Gurupi a resposta da direção da escola foi curta: “Quanto menos falar neste assunto é melhor”, resumiu a dona da escola ao ser questionada pela reportagem do Portal Atitude.
Para evitar a sensação de insegurança, o comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar (4º BPM), tenente-coronel Weslley Dias Costa, informou que intensificou a Patrulha Escolar nas imediações das escolas estaduais desde a semana passada, motivada pelos ataques que aconteceram nos estados do sul e sudeste do país.
“Está rolando muitas informações falsas nas redes sociais e aproveito esta oportunidade para solicitar a sociedade que antes de difundir falsas informações nas redes sociais, faça um levantamento prévio para verificar a veracidade das informações. Todas as informações que estão chegando na Polícia Militar de violência nas escolas estão sendo levantadas por meio do serviço de inteligência e temos constatado que são todas fake News, todas falsas. Então, peço encarecidamente a todos que mantenham a calma e se verificar alguma anormalidade acione a Polícia Militar por meio do 190”, alertou o comandante.
Prisão em Araguaína
O assunto é sério e não pode deixar passar desapercebido, diante casos como o mostrado pelo deputado Moisemar Marinho (PSB), que também é policial civil, que usou a Tribuna da Assembleia Legislativa para informar que a DEIC teria prendido um suposto aluno, após ele ter alegado em mensagem ter sofrido bullying e ameaçou ataque ao Colégio Estadual João Alves Batista.
“É importante que escolas, familiares e poder público abram um diálogo amplo sobre temas como violência, saúde mental e segurança pública. É necessário que, de maneira integrada, sejam feitos esforços para promover uma cultura de paz nas escolas, mas também ações práticas de cuidados em saúde mental, além de medidas preventivas e de combate à violência”, alerta a jornalista e psicóloga, Meiry Bezerra.
Em Gurupi o assunto foi destaque na Sessão Ordinária da Câmara Municipal. O vereador Ivanilson Marinho apresentou um ofício pedindo a intensificação do patrulhamento nas escolas da cidade. O vereador Elvan Leão, propôs a criação de uma Guarda Municipal para auxiliar no combate a violência nas escolas. “A Polícia Militar não tem a responsabilidade de cuidar do patrimônio público municipal, papel este que seria desempenhado pela guarda municipal. Desta forma, a criação dessa guarda desafogaria o trabalho da Polícia Militar, permitindo que ela se dedique a outras atividades”, disse Elvan.
Em Palmas, a prefeita Cinthia Ribeiro anunciou, via instagram, o resultado de uma reunião com a Força de Segurança para traçar estratégias que reforçarão a segurança no ambiente escolar da rede pública de ensino da Capital.
“Dentre as ações está a implantação de uma Rede de Segurança, com a criação de um grupo de trabalho que terá a participação dos órgãos de proteção a criança e o adolescente”, comentou a prefeita após reunião com a Semed, PM, Polícia Civil, PRF, CBMTO, Exército, Marinha e Guarda Municipal de Trânsito.
Comitê de prevenção à violência
O primeiro passo tomado pelo Governo do Tocantins por meio da Secretarias de Estado da Educação, da Segurança Pública e da Polícia Militar foi a criação, nesta terça-feira, 11, do comitê de prevenção à violência e promoção da cultura de paz no ambiente escolar. Para isso, o titular da Secretaria de Estado da Educação do Tocantins (Seduc), Fábio Vaz, destacou que a rede estadual de ensino já realiza um trabalho preventivo com ações pedagógicas de comunicação não violenta e acolhimento via orientadores educacionais.
“O Tocantins foi um dos primeiros a oferecer esse atendimento de psicólogos e assistentes sociais dentro da escola. Agora, diante deste cenário que se desenha, precisamos tomar medidas urgentes no que diz respeito ao acesso às dependências das escolas e na orientação dos profissionais que atuam nas unidades. Por meio do comitê, o Governo do Tocantins visa garantir a integridade física dos alunos e dos servidores com medidas de segurança, mas também ações pedagógicas, de orientação, potencializando o trabalho de combate ao bullying e fortalecendo a cultura de paz nas unidades da rede estadual”, afirmou Fábio Vaz.
Falsa ameaça via redes sociais e grupos de WhatsApp
Desesperados com tantas informações inseguras, pais criam grupos de whatsapp e, em um deles, que a reportagem teve acesso há um vídeo em que um homem supostamente em busca de audiência ao seu canal denominado, Brasil Notícias News, culpa o jogo Dycare – The Story (tradução: Creche – A história) e contextualiza o caso do homem que matou quatro crianças no ataque a uma creche de Blumenau, no Vale do Itajaí (SC). “O jogo chega a uma certa fase que para você passar dela tem que matar crianças na vida real e estes adultos, estes caras de 15 anos, estes monstros estavam participando. O que foi preso que matou as quatro crianças em Santa Catarina disse que não tem só ele, mais uns quatro espalhados no Brasil que estão desafiados e vão cometer crimes, porque precisam passar de fase. Você que têm crianças nas escolas, por favor, tome cuidado e as minhas (crianças) aqui hoje eu nem mandei porque o medo é grande e a gente não sabe, o governo não consegue nos proteger. Então, você proteja a sua criança e vocês das escolas, diretores, donos não abram o portão para qualquer um e se não for pai, o que vai fazer lá?”.
No entanto, as investigações da Polícia Civil apontam que o assassino “estava em surto paranoico” e há indício dele ser “um psicopata”.
“Como eu já afirmei, ele agiu sozinho, de forma isolada, e não há indicativo de que tenha sido desafio de jogo ou orquestração com outras pessoas”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel em entrevista ao Bom Dia Santa Catarina, da NSC TV.
Sensação de insegurança
Enquanto o assunto se tornou o tema central dos debates e tira o paz de todos os pais, estudantes e educadores, a pergunta é: O que fazer para diminuir a sensação de insegurança e quais as medidas a curto prazo serão adotadas para evitar a disseminação de pânico geral e quais os estudos pretendem fazer a comunidade acadêmica?
Enquanto não há reposta, especialistas defendem a criação de uma legislação rígida para derrubar conteúdos de disseminação de crueldade e de pânico, enquanto isso, vale a comunidade refletir que vale mais a pena compartilhar mensagens e áudios voltados as orientações como divulgações dos canais de denúncias.
Canais Denúncias
Delegacias de crimes cibernéticos das principais regiões brasileiras também monitoraram ameaças na internet relacionadas a possíveis ataques. Os dados estão sendo analisados pela equipe do Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab), do ministério, que se dedicará exclusivamente a esse trabalho nos próximos dias, em regime de plantão, 24 horas. Qualquer cidadão poderá denunciar ameaças ligadas à segurança de escolas e alunos no site do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O canal exclusivo para receber informações de casos suspeitos de ataques a instituições de ensino foi criado pelo ministério, em parceria com a SaferNet Brasil. Essa associação civil de direito privado atua na promoção dos direitos humanos na internet e, desde 2006, oferece uma plataforma online para denúncias de conteúdo ilegal ou prejudicial na rede. A organização atua como um canal direto entre os usuários da internet e as autoridades, oferecendo um ambiente seguro e confidencial para o envio das denúncias.
Nas ações que integram a Operação Escola Segura, organizada pelo MJSP em parceria com os Estados, trabalham de forma integrada 51 chefes de delegacias de investigação e 89 chefes de agências de inteligência de Segurança Pública (Polícias Civis e Polícia Militar). A operação vai vigorar por tempo indeterminado, de forma contínua e durante 24 horas por dia, reunindo centenas de profissionais.
Com informações da Agência Brasil e da Secretaria de Comunicação do Tocantins