“Antes que alguém questione, afirmo que não estou aqui defendendo partido A ou B, mas sim dizer que, se é pra fazer justiça, que todos os envolvidos em algum esquema de corrupção sejam julgados em conformidade com a Lei e punidos se forem de fato culpados; o que não é aceitável é a parcialidade; o judiciário não pode ser parcial e seletivo; esse é um principio caro do Direito” João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Nos momentos mais difíceis da vida, quando tudo parece perdido, aí algo surge como um sinal de que as coisas não são como aparentam ser e, principalmente, que embora se mostre complicada a situação, a vida toma um novo rumo.
É assim que vejo a situação que vivemos hoje no país depois de ouvir o discurso da estudante secundarista Ana Julia Ribeiro, da Escola publica Senador Manuel Alencar Guimarães, na Assembléia Legislativa do Paraná sobre a situação da educação e da necessidade de ocupar as escolas na luta por uma educação e por um futuro melhor. Confira o discurso abaixo:
O discurso da Ana Júlia se mostra impactante, tanto pela forma como a estudante se posiciona, com emoção, precisão e objetividade, quanto pelas verdades expostas sobre a realidade do país diante de ameaças e do desrespeito à democracia e ao Estado de Direito evidenciados com a aprovação da PEC 241, com a Lei da mordaça denominada “Escola sem partido”, além do posicionamento parcial e conservador da mídia tradicional, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal – STF, que fechou a semana com a decisão da suspensão do salário para os que fizerem greve. Quer dizer: isso significa que as greves, que é um direito constitucional, estão proibidas.
Mas o discurso da garota vai mais longe ainda quando chama a atenção dos parlamentares de que a PEC 241 e a proposta da Escola sem partido constituem na verdade uma afronta aos estudantes e a sociedade, bem como, é um desrespeito a democracia, a diversidade, aos Direitos humanos e a necessidade de justiça social.
A garota questiona: de quem é a escola? A quem a escola pertence? e mostra que é impossível um pais justo e melhor com uma educação onde não se permite a discussão.
Desde que se consolidou o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, mesmo sem que ela tenha cometido crime algum, o que na verdade demonstra ser golpe parlamentar, temos assistido a cada dia um conjunto de ações arbitrárias que evidenciam uma realidade de estado de exceção: a perseguição a um partido político e aos militantes dos movimentos sociais, a perseguição escancarada ao ex-presidente Lula, mesmo não havendo provas dos crimes que ele está sendo acusado, enquanto as delações e denúncias relacionadas aos políticos de outros partidos, inclusive Temer e vários de seus ministros, mesmo com evidencias, não são levadas em consideração por parte do judiciário, especialmente dos que estão à frente da operação Lava jato.
Enquanto isso a grande mídia faz de conta que nada está acontecendo, e usa de mecanismos de manipulação para que todos acreditem que só há um culpado. A operação Lava Jato virou uma operação contra um partido político e contra o seu principal líder.
Antes que alguém questione, afirmo que não estou aqui defendendo partido A ou B, mas sim dizer que, se é pra fazer justiça, que todos os envolvidos em algum esquema de corrupção sejam julgados em conformidade com a Lei e punidos se forem de fato culpados; o que não é aceitável é a parcialidade; o judiciário não pode ser parcial e seletivo; esse é um principio caro do Direito.
Há tempos que alguns representantes do judiciário brasileiro deixaram de lado os princípios do Direito e abraçaram um posicionamento político e parcial. Chegamos assim a uma situação complexa e delicada com a evidência de uma crise institucional envolvendo os três poderes; o que se mostra um grande perigo, pois é nessas situações que fascistas e ditadores surgem como verdadeiros Messias; a história está repleta de exemplos do que foram capazes de fazer (e não foi nada bom).
Também nesta semana 26 estudantes que ocupavam uma escola em Miracema do Tocantins, foram levados algemados num camburão da polícia, fato que se tornou bastante conhecido nacionalmente, tendo sido inclusive denunciado na tribuna do senado. A prisão se mostrou totalmente irregular, inclusive desrespeita a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente, quando os representantes do judiciário, em vez de proteger passa a ser o principal violador da lei.
Diante de situações como essas, nesse momento, o discurso da estudante Ana Julia representa todos os que lutam por uma educação melhor, se mostra bastante pertinente e acende a esperança de que um novo mundo é possível. Isto porque se percebe uma juventude que surge com coragem e confiança para lutar e enfrentar a ignorância, a truculência e o ódio que tem se espalhado em nosso país.
Como diz a canção de Chico: “Apesar de você amanhã há de ser outro dia”.