O filósofo, Fabiano de Abreu, e a psicóloga, Rosilene Espirito Santo, abordam neste texto sobre a questão da mobilização popular contra o abuso do governo. “Um povo pacato abre brechas para a falta de solução. Entendemos que o cansaço contínuo devido a “metralhadora” de acontecimentos negativos que mexem com o emocional, causa uma desmotivação. Mas devemos entender que sem ação não há consequências, não há resultados e não há mudanças.” Defende o filósofo Fabiano de Abreu.
O brasileiro é internacionalmente conhecido como um povo receptivo, sorridente apesar dos problemas, criativo e que sempre “samba” pra resolver as mais diversas situações. Povo pacato, tradicionalmente acomodado em sua zona de conforto, ou seria de desconforto conhecido.
Curioso ressaltar que por vinte centavos, fomos às ruas, protestar por um aumento que, a posteriori, veio de qualquer modo. Pelo impeachment da ex-presidente Dilma, fomos às ruas. Mas agora, assistimos ao governo Temer comemorar a passividade do povo, comemorar o aumento dos impostos sem manifestações populares, sem pressão das pessoas nas ruas, sem “panelaço”. Qual a razão? Enquanto isso, seguem as denúncias contra o presidente Temer, que serão trazidas à votação essa semana, mas o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE) reforça a tese de que tudo vai ficar bem para o presidente. Ele disse que os líderes governistas sondaram os deputados sobre eventuais impactos da medida na votação e concluíram que, devido à falta de reações populares, não deverá haver mudanças nos votos pró-Temer.
Acredita-se que esse comportamento, que seria incomum em outros países vizinhos como Argentina e Uruguai, tenha origem na descrença do brasileiro, que está cansado, exaurido, de lutar e sempre ser vencido pelo sistema, pela máquina pública. De acordo com o filósofo Fabiano de Abreu:
“Um povo pacato abre brechas para a falta de solução. Entendemos que o cansaço contínuo devido a “metralhadora” de acontecimentos negativos que mexem com o emocional, causa uma desmotivação. Mas devemos entender que sem ação não há consequências, não há resultados e não há mudanças.”
Já para a doutora Rosilene Espirito Santo Wagner os motivos de tal inércia está ligado a fatores sociais, culturais e históricos, que formaram ao longo do tempo a personalidade e pensamento coletivo do povo brasileiro: “Isso é uma construção cultural. Estudada há muito por homens letrados, tal qual J.O. De Meira Penna que genialmente escreveu “Em Berço Esplêndido”, que tenta explicar a construção subjetiva e o traço psicológico e o inconsciente coletivo (Carl Jung). Que trazemos em nós ( sem sabermos), por vivermos do lado de baixo do equador. A urgência dos prazeres, a necessidade de estar na rua em busca de algo que preencha a nós mesmo e não a coletividade. E se jeito de “dar um jeitinho”, consegue externalizar a preocupação com o sujeito individual negando a coletividade.