Para entender os motivos da queda da arroba do boi, após alcançar uma das melhores cotações da história, o Portal Atitude ouviu um produtor, o consultor agropecuário Fernando Scotta e o presidente do Sindicarnes/TO, Oswaldo Stival, que falam sobre a desvalorização do preço, onde o consumidor final ainda não sentiu nos supermercados.
por Wesley Silas
No momento de crise econômica e de queda do dólar, o pecuarista, José Carlos, procurou o Portal Atitude para falar do problema que o segmento produtivo tem passado na hora de vender o seu rebanho.
“Hoje a pecuária tocantinense passa por uma das piores situações dos últimos anos. O preço paga ao produtor e o pior do Brasil de acordo com a Scot consultoria”, disse José Carlos.
Segundo a última cotação da Scot Consultoria do boi gordo, mostra o preço da arroba de boi em Barretos (SP) é de R$ 145,00 à vista, na região sul de Goiás R$ 129,00, no sul do Tocantins o valor pago é de R$ 123,00 e em Marabá (PA) R$ 122,00. A Scot avalia o preço da arroba do boi gordo em 17 estados e 32 praças.
“Caso este cenário persista muitos produtores geram dificuldades em honrar seus compromissos, pois além dos preços, temos uma situação climática que prejudicou as pastagens até o próximo ciclo reprodutivo. Por conseqüência, toda a cadeia produtiva irá perder e isso inclui o setor de serviços, comércio varejista e as empresas fornecedoras diretas e indiretas, devido o produtor perder, até o presente momento, mais de 30% do valor de seu rebanho. A indústria irá perder, caso não entenda e melhore a remuneração, pois muitos irão sair da atividade ou não iram investir por conseqüência da diminuição do número de animais a serem fornecidos para a indústria”, disse o pecuarista.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Carnes Bovinas, Suínas, Aves, Peixes e Derivados (Sindicarnes/TO), Oswaldo Stival Junior, a queda da arroba do boi é decorrente diminuição do consumo interno devido a crise econômica do país e da queda do dólar que prejudica as exportações.
“Com a diminuição do consumo, de janeiro até agora, a desvalorização do boi casado, que são os cortes traseiro, dianteiro e a ponta de agulha no mercado interno foi de 6.5%. São informações que estão na Scot Consultoria e no Canal Rural para os nossos produtores olharem. Outra situação é a questão do ciclo pecuário que agora favorece o recriador e invernista de boi porque tem muita oferta de bezerro e temos muitas vacas produzindo bezerros e não tem quem compre e, naturalmente, o preço do bezerro cai. Um bezerro que valia R$ 1.500,00, vale hoje R$ 1.100,00 e até R$ 1 mil”, disse Oswaldo Stival.
Segundo Stival, pecuarista que é do ramo deve entender que o setor possui ciclos que oscilam os preços de bezerros, do boi e da carne no varejo.
“Tudo isso está atrelado, onde o boi gordo sempre está ligado a carne e se ela estiver baixa, naturalmente, o preço do boi gordo deve baixar. No entanto, nem sempre o boi gordo está atrelado ao bezerro, como esteve por alguns anos onde os bezerros estiveram super valorizados e o boi gordo não tinha tanta valorização. Tanto é que o invernista vendia um boi gordo e comprava 1.6 bezerro”, explica.
De acordo com o presidente do Sindicarnes, a crise fez com que aumentasse a oferta de carne de frango e de suínos, colaborando com a baixa do consumo de carne bovina.
“Temos uma oferta maior no mercado de carnes de frango e de porco competindo com a carne do bovino, consequentemente, a carne bovina teve que ajustar, tanto é que os meios de comunicação na área rural estão mostrando desvalorização de janeiro até agora de 6,5% no preço da carne no atacado. Isso simboliza que se comparar o boi no começo de janeiro quando a arroba estava custando R$ 135,00 e se ele chegou agora a R$ 125,00, basta jogar os 6,5% chega ao que, realmente, desvalorizou”, disse.
Exportação
Na exportação, Oswaldo Stival explica que a queda do dólar influenciou, significativamente, no preço da arroba do boi. Ele defende que o mercado exige boa produtividade da porteira para dentro da fazenda, mas, da porteira para fora quem estipula do ritmo são as commodities.
“O último balanço que Ministério de Relações Internacionais que fechou em janeiro, constou que o Brasil exportou menos mercadoria do que no mesmo comparativo do ano passado, tendo como conseqüência o dólar muito barato pressionando os nossos produtos. Se analisar a cadeia da soja também está acontecendo a mesma coisa agora com o dólar desvalorizando e o preço recuando. Produtos que estão para exportação estão atrelados a questão do dólar”, explica.
Diferença do preço da arroba
Oswaldo Stival explica que diferença de preço da arroba entre as regiões brasileiras, que na última cotação da Scot varia entre R$ 145,00 a R$ 122,00, deve-se a presença das regiões no mercado externo, como o europeu e a distância dos portos para exportação.
“Hoje a maioria dos produtos que exportamos são carnes de segunda, carne dianteira; enquanto eles vendem além da carne dianteira, carnes de primeira como o filé , contra-filé, alcatra e colchão-mole com preços que a gente vende no mercado interno, só em euro. Se nós vendemos a R$ 26,00 o quilo de filé mignon, eles vendem a € 26,0 a € 30,00 (euros). Esta diferença dá condições para eles pagarem um pouco mais do que as vezes na nossa região como o Tocantins e Pará que ainda não está habilitada. Também tem o frete muito próximo do boi e o frente próximo da carne, sendo que hoje temos o boi próximo, mas temos que levar a carne a 1.500 quilômetros”, disse.
A reportagem do Portal Atitude ouviu o zootecnista e diretor da Scota Consultoria Agropecuária, Fernando Scotta. Para ele há vários fatores que contribuem com a queda da arroba do boi e do preço do bezerro.
“Fala-se muito em cartelização de frigoríficos, mas não é bem este o ponto. O fato é que eles são mais organizados, pois ajustaram os abates ao mercado e se organizam. No entanto, os pecuaristas não se organizaram e reclamam de frigoríficos, mas se for fazer uma avaliação menos de 1% sabe o preço de custo de uma arroba do boi. Como é que eles podem falar que a arroba está barata? Em relação a quê? Quando custa a arroba do boi produzida?”, disse Scotta.
Ele considera que a crise econômica brasileira está, estritamente, ligada a queda do consumo de carne bovina.
“Há vários indicadores de que economia vai recuperar em 2017, mas um deles é interessante foi que em 2008 o brasileiro chegou a consumir 40 quilos de carne por habitante ano, depois caiu para 36, 32 e no ano de 2016 chegou a 26 quilos por habitantes. A carne bovina tem um fator interessante que nenhum outro alimento tem que é a relação elástica com a economia de 10 para 5, a cada 10% do aumento da renda do consumidor brasileiro ele aumenta 5% no consumo de carne bovina. O brasileiro é apaixona por carne bovina. Está consumindo pouco é porque diminuiu o poder aquisitivo”, considera o consultor.
Fernando Scotta acredita que os supermercados ainda não repassaram a queda do valor da carne para o consumidor final.
“Acredito que a maior margem de lucro está no final que são os supermercados. Pergunte as pessoas que vão ao supermercado se o preço da carne baixou? Se não baixou lá e baixou no produtor, alguém deve está ganhando.
Contudo, Scotta considera a aumento de oferta de gados no mercado é cíclico e tende a estabilizar os preços.
“Ninguém sabe quanto tempo vai demorar, pois depende de muitos fatores, principalmente, da economia e da exportação sendo que hoje o percentual de carne que o Brasil exporta é pequeno em relação ao que ele abate em mercados que não valorizam uma carne de qualidade. O Brasil vende preço e ainda não entrou de corpo no mercado de carne premium que são da União Européia e Estados Unidos. No momento que conseguir agregar valor de sua carne, o valor das exportações se tornarão maiores e a dependência do consumo interno ficará menor”.
A queda do preço de produtos usados na ração dos animais, como o milho, contribuirá na economia da produção de carne bovina na fazenda, da mesma forma na ração de aves e suínos.
“O custo de produção dele vem caindo, o sal mineral baixou, o milho tem possibilidade de baixar muito e, só para ter uma referência, no ano passado quando a arroba do boi estava R$ 132,00, a saca de milho custava R$ 50,00 e se hoje a arroba está R$ 123,00, a saca de milho vai para R$ 30,00, com isso, o produtor ganha muito mais do que no ano passado porque as moedas de trocas estão equivalentes”, disse. Em seguida completa: “O mais preocupante, e torço que dê errado, é que se não melhorar as exportações – quando chegar no final da safra da colheita de milho, que é a base de 70% da ração de aves e suínos, vai baixar o custo e, com isso, vão ser jogado no mercado carnes de frangos e suínas mais baratas, concorrendo ainda mais com a carne bovina”, justifica.