O Se Rasgum abraçou a música contemporânea da Amazônia, e esse foi apenas o primeiro passo. A Seletivas Se Rasgum Amazônia Legal foi além de seu objetivo de conhecer novos sons produzidos nos estados que compõem nossa região, e os nove curadores convidados tiveram a dificílima missão de selecionar apenas 10 entre os mais de 200 artistas inscritos. E não apenas pela quantidade, pois foram centenas de artistas brilhantes que dão à Amazônia um novo olhar musical, criativo e diversificado. Não só o radar do Festival Se Rasgum está ampliado, como o dos curadores de todos os estados da Amazônia Legal.
da redação
O festival anuncia hoje os 10 selecionados para a etapa Seletivas do Festival, que há mais de 15 anos ajuda a impulsionar a carreira de novos artistas, e é considerado o maior festival de música independente da Região Norte. Dessa vez, colocando os artistas selecionados em uma esfera imersiva e de construção de carreira, respeitando as condições atuais e tirando o melhor da situação de não estar em cima do palco.
São eles: Drin Esc (PA), Iris da Selva (PA), Jeff Moraes (PA), Karen Francis (AM), Klitores Kaos (PA), Mc Super Shock (AP), Móbile Lunar (PA), Núbia (MA), Raidol (PA) e Soprü (TO).
Nascido e criado na periferia de Belém, no bairro da Marambaia, Drin Esc é um artista paraense que passeia entre o Rap, R&B, Trap e Música Alternativa. Sua música fala sobre suas vivências e sentimentos e, apesar de sua estreia em 2019 com Tríplice Coroa, foi no ano seguinte que ele lançou seu primeiro disco, Caos, Lapsos e Poesia, com ótima recepção local.
Iris da Selva é artista trans não-binario da Amazônia. Nascide em Belém do Pará, tem em sua música a mistura da MPB com fortes elementos do carimbó. Iris carrega a sensibilidade e a força das encantarias das águas em sua poética musical. A espiritualidade é seu elemento condutor e suas composições procuram descortinar o dia a dia , na busca de apresentar ao mundo sua percepção das delicadezas e entrelinhas da vida.
Jeff Moraes é um artista afro-amazônida que busca através de sua música revelar sua ancestralidade e regionalismo com uma pitada de cultura pop e LGBTQI+. O cantor com mais de 10 anos de carreira sempre esteve presente nos movimentos populares de cultura negra em Belém e desde 2010 vem trilhando sua carreira sob a veia da música pop, internalizando em seu som os batuques e tambores amazônicos para enaltecer os ritmos e sons da sua terra.
A voz potente como instrumento, a lírica sensível e a musicalidade que une raízes da música negra com a modernidade fazem de Karen Francis uma representante distinta do R&B contemporâneo produzido no Norte do país. O contato com a música desde cedo despertou na artista o fascínio pela melodia e a fez ver na arte sonora uma forma sensível para o povo preto falar de suas dores, alegrias e amores. Desde então, ela tem transformado em canções suas experiências enquanto mulher negra e lésbica na periferia de Manaus (AM) e discussões sobre dramas amorosos, desejos, ancestralidade e negritude.
A Klitores Kaos foi fundada no ano de 2015 em Belém, com a proposta de fazer uma banda exclusivamente de mulheres, mandando um hardcore e punk agressivo, com pegadas de Crust. A formação atual conta com a Nia Lima (Guitarra/backing vocal), Line Menezes (contrabaixo) e Lucelina Rodrigues (vocal). Atualmente é a única banda em Belém de HC/Punk/Crust formada somente por mulheres na ativa. O feminismo e a luta antifascista são as principais bandeiras levantadas pelo grupo em suas canções, já que encontram na música um meio de dar voz às angústias geradas pelas opressões do cotidiano e incentivar mulheres a buscar sua autonomia.
Rapper, produtor musical, audiovisual e gestor de cultura, Mc Super Shock se destaca no fomento cultural na região norte do país, em especial no Estado do Amapá desde 2011. Suas produções e shows contemplam vários formatos e são marcados pela valorização da ancestralidade e do afroafeto, pelas críticas sociais e protestos acerca da dignidade e qualidade de vida da juventude negra, sempre com letras intensas.
A banda Móbile Lunar foi uma das selecionadas nas Seletivas de 2019, vindo a se apresentar no festival no mesmo ano. De lá pra cá, a banda amadureceu profissionalmente: passaram por uma temporada de música autoral abrindo portas para outro artistas no evento “Janela Lunar”, lançou seu primeiro longa-metragem, ficou entre as 50 bandas selecionadas nacionalmente para o Festival Lollapalooza, e tinha turnê de lançamento do primeiro álbum programada para quatro cidades do Nordeste, que foi adiada devido a pandemia. Acabaram de lançar o álbum Feroz.
Banda de música autoral que carrega o nome da vocalista e compositora, a Núbia traz em sua sonoridade o estilo musical do reggae, explorando suas diversas vertentes. Com uma voz marcante, entoa músicas de protesto, abordando a influência sociocultural do reggae jamaicano no Maranhão e de ritmos urbanos de maneira ressignificada, compostas sob a perspectiva da mulher preta. Em sua trajetória, Núbia já colaborou com projetos de artistas como Zeca Baleiro e Carlinhos Brown, além de outros artistas referência da nova música nordestina.
Forjado em uma família de artistas (pai violonista, mãe dançarina e avó cantora de rádio), Raidol nasceu imerso em arte. Através da vitrola de seus avós e das intermináveis tardes de domingo regadas a música, entrou em contato desde cedo com uma variedade imensa de artistas. Raidol gosta de imprimir em seu trabalho timbres orgânicos comuns a música paraense e aos terreiros de umbanda que frequentou durante toda a vida, guitarras suingadas e um beat envolvente, trazendo um viés pop irresistível e uma autenticidade peculiar ao seu trabalho, criando assim um novo pop paraense, moderno e conectado ao que toca nas rádios do país.
A Soprü começou suas atividades como banda em 2019. Mas o início do que seria esse grupo, aconteceu em 2018, um ano antes. Algumas das composições no repertório são mais antigas que o próprio conjunto musical devido aos trabalhos anteriores de seus membros. Em 2021 lançaram seu primeiro álbum, “Enquanto a Orquestra Não Vem” com pitadas de psicodelia, brasilidade e funky. No início pretendiam ser um projeto mais acústico, mas conforme as mudanças de integrantes, foram encontrando gosto pelas guitarras elétricas e timbres dos synths. Saindo de uma vibe mais MPB, se aventuram hoje em um estilo mais progressivo, melódico e que afaga os ouvidos mais atentos.
“Mais do que orgulhosos, estamos muito felizes de conhecer tantos trabalhos incríveis, originais, autênticos e extremamente relevantes da nossa região amazônica. Podemos dizer que, nesse momento, talvez sejamos quem mais conhece a música contemporânea produzida na Amazônia, e isso certamente trará um olhar de fora ainda mais especial para a nossa música”, conta Marcelo Damaso, um dos diretores do Festival Se Rasgum.
A partir da semana que vem, os selecionados participarão de uma série de encontros virtuais para mentorias e conversas sobre tópicos da indústria musical para ajudar no desenvolvimento de suas carreiras como direitos autorais, formação de público, circulação e muito mais. Tudo com o acompanhamento da curadoria do festival e do produtor gaúcho Iuri Freiberger.
São mais de 120 horas de encontros virtuais, entre mentorias, trocas de experiências, produção musical e preparação para o pitching de seleção dos 3 finalistas das Seletivas. As capacitações trarão soluções para as questões de carreira dos selecionados. Thiessa Torres trará sua expertise em relações públicas, marcas e impacto, Guilherme Velho irá desvendar as questões sobre pitching e empreendedorismo, Florencia Saravia, falará sobre questões técnicas em estúdio e para o ao vivo e Alexandra Favaro abordará o tema branding e identidade.
As bandas escolhidas também irão produzir um single cada, que vira uma playlist que será divulgada em dezembro na Deezer, player oficial do Se Rasgum, além dos próprios canais do festival. Com a playlist em mãos, 15 compradores do mercado irão selecionar três bandas, que irão fazer parte do line up da próxima edição presencial do Se Rasgum.
As Seletivas Se Rasgum têm patrocínio master da Oi e apoio cultural do Oi Futuro através da lei Semear de incentivo à cultura via Governo do Estado do Pará e Fundação Cultural do Pará, além do player Oficial Deezer. O projeto também foi selecionado pelo Edital de Multilinguagens – Lei Aldir Blanc Pará.