“É difícil porque a gente tem construído uma relação com sociedade não indígena de autonomia, onde estamos tentando construir a questão do turismo e divulgar a nossa riqueza dentro da nossa terra; mas, de repente, acontece uma coisa desta, sem diálogo. É muito triste tudo isso”, disse o cacique Cleiton Javaé, da aldeia Txuiri, em áudio por meio de um grupo de whatsapp. Ele reclamou ainda que os índios perdem a autonomia e estão sendo desmoralizados devido a interferência da Funai.
por Wesley Silas
A denúncia do Conselho das Organizações Indígenas do Povo Javaé da Ilha do Bananal (CONJABA) que provocou a decisão judicial do cancelamento da Expedição da Ilha do Bananal gerou divisão de opiniões entre os caciques das aldeias. “Houve uma interferência na organização social do nosso povo, onde não respeitou a questão da nossa comunidade”, disse em áudio o cacique Cleiton Javaé, da aldeia Txuiri sobre o impedimento judicial da expedição que estava marcada para acontecer na manhã desta quarta-feira.
O vereador e presidente da Câmara de Formoso do Araguaia, Robson Haritianã (PRTB), da etnia Javaé, da aldeia Canuanã, disse que um equívoco gerou a ação que resultou na suspensão da Expedição da Ilha do Bananal devido o levantamento da bandeira da Transbananal, sem antes de ouvir os índios. Porém, ele defendeu há mais de 20 anos acontece a expedição que se tornou uma tradição na Ilha do Bananal.
“Ninguém, até agora, sentou com os caciques e lideranças para ver de que forma seria [construída a Transbananal]. Então, houve este equívoco e acabou gerando este problema”, disse Haritianã.
“Houve uma interferência na organização social de nosso povo”
Em um áudio publicado em um grupo de whatsapp (ouça abaixo) o cacique Cleiton Javaé, da aldeia Txuiri, disse que os índios perderam a oportunidade de divulgar a cultura de seu povo e o potencial da Ilha do Bananal como roteiro do ecoturismo em rede nacional.
“Se a gente tiver que ajuizar tudo para resolver as questões internas nossa, não precisamos de organização indígenas, mas, sim, levar estas questões para um procurador ou juiz. Nós tínhamos feito uma programação na nossa comunidade onde parte deste recurso deste rally seria investido em uma formatura agora no final do ano”, disse. Ele afirmou que mais 60 pessoas estão “no quintal de sua casas” sem poder retornar devido os carros serem adaptados para não rodar no asfalto.
“Isso é um desrespeito à nossa comunidade e expõe a gente numa situação constrangedora diante a sociedade. Então, eu acho que os caciques têm que observar isso e o que está acontecendo comigo deveria acontecer com qualquer pessoa e estou aberto a discutir qualquer assunto com todo mundo e vamos respeitar”, disse.
Apesar de ter mais de 15 anos em defesa da luta do povo indígena, Cleiton Javaé, disse que a decisão desta quarta-feira o motivou a sair do grupo [whatsapp] de CONJABA por se sentir desrespeitado como cacique. Ele também criticou a dependência do seu povo de autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a interferência na organização social da sua comunidade.
“Me deu vontade de até abandonar o cargo de cacique porque foi um total desrespeito porque a nossa comunidade está sendo desmoralizada e nós índios estamos sendo apontado na beira do rio porque quem manda é a Funai e índio não manda nada não. É difícil porque a gente tem construído uma relação com sociedade não indígena de autonomia, onde estamos tentando construir a questão do turismo e divulgar a nossa riqueza dentro da nossa terra e de repente acontece uma coisa desta, sem diálogo e é muito triste tudo isso”, concluiu.