Por Wesley Silas
Como se não bastasse a crise política e econômica que o Brasil enfrenta, a falta de chuva no Tocantins pode aumentar a crise no Estado e frustrar as estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que prevê aumento na produção de grãos de 2,2% para 2016, saindo de 4,2 milhões de toneladas para 4,3 milhões de toneladas de grãos, em torno de 100 mil toneladas de grãos a mais.
No Sul do Tocantins, a falta de chuva está gerando prejuízos milionários aos produtores e os replantar suas lavoura, como foi o caso da Fazenda Santo Antônio, localizada a 25km de Gurupi, às margens da BR-242.
“A situação está precária e feia porque há pouca chuva. Estamos em um acumulado de aproximadamente 300mm até agora. Já plantamos, perdemos e plantamos novamente e agora vamos ver o que vamos fazer. Ao todo o patrão plantou 2 mil hectares e já perdeu 90 hectares e estava conversando com ele estamos estimando perda de 30% a 40% neste ano”, disse Rodrigo Gregórios.
As incertezas da safra deste ano é algo que tem tirado o sonho dos produtores. Gregórios lembra que no ano passado choveu mais do que este ano e que na época houve apenas um veranico quando a semente da soja já tinha germinado.
“No ano passado produzimos cerca de 52 sacas por hectares e neste ano não dá nem para falar porque não sabemos se vai chover. Temos que ver como ficará o tempo para frente”, disse.
Na região de Formoso do Araguaia e Dueré a situação também não é diferente, conforme relata o engenheiro agrônomo Marcelo Pedro Morais.
“Temos algumas regiões meio comprometidas como em Dueré. Assim como nas margens do Rio Formoso, nas partes altas onde tem lavouras de arroz também estão muito comprometidas. Tudo isso em região de varjão que estão sem água, como é o caso do Rio Formoso, que está todo cortado. A nossa expectativa é que chova porque sem chuva eu não sei o que vai virar”, disse o agrônomo Marcelo Pedro Morais, que trabalha com sementes, defensivos agrícolas e assistência na área de arroz no sul do Tocantins.
Fernando Scotta que atua em consultoria de agronegócio, aconselha aos produtores que ainda não plantaram a acompanharem a meteorologia e o fenômeno El Ninho.
“Pensando em fazer uma segundo safra, que é a safrinha, muitos anteciparam a plantar, mesmo sem ter perspectiva de chuvas. Quem foi mais prudente ainda não plantou, inclusive estou em Goiás e aqui foi adiado para até o dia 31 de janeiro o plantio da safra. Ou seja, mais tempo para esperar as chuvas. O problema agora é que o produtor não vai fazer uma segunda safra; mas, paciência, porque o que sustenta o agricultor é a primeira safra. É difícil dar conselho porque são fatores complicados de clima que em nenhum ano se repete.
Pecuária e Indústria prejudicadas
Em Gurupi, toda parte do leito do Rio Gurupi que a reportagem do Portal Atitude acompanhou secou e a água deu a lugar a areia e até mesmo poeira. Na fazenda Santa Clara, o produtor Hélio Gonçalves Reis, disse que sua família mora no local há 11 anos e nunca tinha presenciado uma seca como a deste ano, que em pleno final de dezembro eles são obrigados a tirar água a cisterna para matar a sede do gado.
“Chegamos aqui no dia 18 de dezembro de 2004 e este rio tinha uma largura imensa, chovia direto e com os anos foi diminuindo, cortava, mas não secava e ficava os poços. Neste ano secou completamente. O gado que bebia no rio agora está bebendo a água da cisterna e na água que ainda temos em uma represa”, disse Gonçalves.
Perto da fazenda Santa Clara está a Cooperfrigu, considerada como maior indústria frigorífica do Tocantins e um dos maiores geradores de emprego em Gurupi. De acordo com o seu vice-presidente, Aelton Camargo,o problema não é o rebanho para abate, mas a falta de água na represa que abastece a indústria, obrigando-a reduzir 30% da produção.
“Tomamos algumas medidas e fizemos redução da produção. Fizemos também uma comissão para economizar o máximo de água na indústria, mas a cada dia a gente percebe que o nosso reservatório vem diminuindo o volume de água e esperamos que chova nos próximos dias”, disse Aelton Camargo.
Ele lembra que nesta mesma época do ano em 2014 o reservatório estava cheio. “Lembro que no dia 10 de dezembro do ano passado o nosso reservatório estava completo e o córrego estava correndo normalmente. Neste ano, praticamente, não teve chuvas que pudesse fazer com que o reservatório enchesse de água”, acrescentou Aelton.
Desmatamentos nas fazendas
Hélio Gonçalves Reis que cuida da fazenda de 28 alqueires com seus pais, relata a falta de consciência de fazendeiros que não respeitam as áreas de preservação permanente e desmataram sem respeitarem as margens dos rios de córregos. Ele condena ainda, o direito da Reserva Legal, previsto no novo Código Florestal Brasileiro.
“Muitos fazendeiros não têm consciência e desmatam dentro dos córregos. Outra coisa que eu acho muito errado é a lei da reserva. Eles compram a reserva em outras regiões onde não tem manancial de água e no meio da pedra; enquanto nós ficamos sem mata porque eles desmatam tudo. Ficamos também sem os animais como a capivara, anta, veado, ema e tatu. Como é que vão sobreviver estes animais? Eu acho isso muito errado porque tem que ter os animais silvestres, assim como tem os seres humanos e todos devem respeitar um ao outro. Eles não pensam nas consequências que terão futuro?”, questiona Hélio Gonçalves.
O Zootecnia e Consultor em Agropecuária, Fernando Scotta, defende que com as últimas secas promovidas por fatores internos como os citados por Hélio Gonçalves e fenômenos como o El Ninho, os produtores terão que mudar os olhos quando se tratar da água.
“O produtor vai ter que começar a olhar a água como uma das coisas mais importantes. Antes ele olhava para o pasto, para cerca e para melhorar a genética. No entanto, a água ele deixava aquela represinha, mas agora está vendo que a represa não está ajuntando água e está assoreada e os córregos poderiam enche-las estão secos. Ele vai ter que começar a investir em aguadas artificiais. Eu tenho andado e visto que este problema tem ocorrido em todos os lugares do estado”, disse Scotta e lembrou: “Esta previsão do El Ninhgo foi feita cerca de três a quatro meses atrás e o produtor está começando a entender que a água está sendo o calcanhar de Aquiles da atividade”.
Para Scotta a a pecuária teve no ano de 2015 um saldo positivo em que o preço do bezerro e animais de cria e engorda subiram acima da inflação e agora o grande problema está sendo dentro da fazenda na questão da escassez da água. “Em função da alta do dólar, os custos de produção que estão subindo, então, investir em água passa a ser essencial nas fazendas e nos projetos de pecuária de corte para que eles sejam rentáveis”, disse.