“Ao se transformar em mercadoria o trabalhador não controla nada que está relacionado ao processo de produção, não é dono de nada e se submete as regras do mercado; assim suas horas de trabalho são controladas e o produto que produz passa a ter mais valor do que ele que próprio que produziu; ele, trabalhador, também não possui e em geral não pode comprar o que produz.” João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT- Campus de Miracema.Trabalha com projetos em cinema e educação
Uma mercadoria é tudo aquilo que é objeto de compra e venda. Antes do capitalismo a produção de mercadoria já existia, todavia, foi com esse sistema que a mercadoria foi generalizada e assumiu novas conotações.
Antes os produtos eram trocados conforme as necessidades das pessoas e não pela imposição do mercado. No capitalismo as mercadorias são produzidas, em geral, independente das necessidades das pessoas; por exemplo, um refrigerante coca-cola não surgiu porque as pessoas precisavam e muito menos como alimento, mas para atender interesses comerciais.
Com o Capitalismo tudo se transforma em mercadoria, tudo se mercantilizou inclusive algumas religiões, quando passaram a vender tudo o que está relacionado à espiritualidade ou divindade; daí que além de objetos tidos como sacros, como: bíblias, santinhos, estátuas, correntes, entre outros objetos, vendem-se também promessas, orações, testemunhos, cultos, de modo que há igrejas para cada gosto do cliente.
A mercadoria como um objeto produzido pelo trabalhador é resultado de um processo de relações de produção. O trabalhador no capitalismo, conforme destaca o teórico Karl Marx, no século XIX, vende a sua mão-de-obra para o mercado, pois, é a única coisa que possui, uma vez que não detém os meios de produção como as máquinas, a fábrica, a terra.
Ao vender sua força de trabalho o trabalhador se submete ao sistema e, por sua vez, passa a uma situação que Marx chama de trabalho estranhado ou alienado; ele não é dono mais de nada no processo de produção, pois, também se torna uma mercadoria.
Ao se transformar em mercadoria o trabalhador não controla nada que está relacionado ao processo de produção, não é dono de nada e se submete as regras do mercado; assim suas horas de trabalho são controladas e o produto que produz passa a ter mais valor do que ele que próprio que produziu; ele, trabalhador, também não possui e em geral não pode comprar o que produz.
O trabalhador está submetido às leis do mercado e sua vida, seu suor, seus músculos, toda a energia que despende para produzir uma mercadoria, suas necessidades, tudo enfim é ignorado pelo mercado.
Quando vamos a um Shopping o que vemos numa vitrine é uma mercadoria cujo valor não corresponde ao valor real; a mercadoria passa a ser vista como que tivesse uma magia, pois o trabalho humano que produziu a mercadoria é tomado como uma fatalidade e o trabalhador que foi responsável pela produção da mercadoria é ignorado e passa a ser apenas uma peça ou uma máquina a serviço do sistema.
Na relação do mercado o trabalhador é desumanizado, coisificado. A “magia que esconde o que está por trás da mercadoria é chamada de fetiche da mercadoria; o consumidor compra o que a mercadoria representa, e por isso que em geral não paga o valor real, aquilo que corresponde ao tempo e energia despendida pelo trabalhador.
Nas relações de mercado as mercadorias se sobrepõem ao humano e até as coisas imateriais, como a educação, por exemplo, passam a ser mercadorias, de modo que o estudo passa a ser um objeto de consumo e não uma necessidade de buscar o conhecimento.
No Capitalismo em geral se estuda para se obter o produto diploma, mas não o conhecimento de fato; isso é mais comum nas instituições privadas, mas na pública, quando predomina a nota e não o aprendizado, temos aí uma relação perniciosa, o estudo como uma mercadoria.
Com a predominância do mercado na vida das pessoas todas as relações são coisificadas e o ser humano é desumanizado, a vida é desumanizada, pois tudo passa a valer pela sua representação.