“A boa notícia é que até 90% dos casos podem ser prevenidos, caso haja condições mínimas para oferta de ajuda profissional ou voluntária, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Isso a imprensa precisa abordar”. Meiry Bezerra
Meiry Bezerra*
Se você está lendo esse artigo é porque começamos bem. Demonstra o seu interesse pelo assunto, mas também que um editor foi sensível a um tema que ainda causa muito desconforto entre os profissionais de imprensa. Noticiar o fato de que alguém deu fim a própria vida, além de não ser uma boa notícia, é alvo de debates sobre como e porque informar a sociedade.
Mesmo não havendo uma lei específica, muitos órgãos de imprensa entendem que notícias sobre suicídio não devem ganhar espaço nos noticiários. O receio é o chamado Efeito Wherter. Em 1774, a publicação da obra Os Sofrimentos do Jovem Wherter, de Johann Wolfgang von Goethe, teria desencadeado uma série de suicídios entre os jovens europeus.Divulgar matérias sobre suicídio motivaria pessoas vulneráveis a tirarem a própria vida? Há muitos questionamentos e controvérsias quanto ao assunto.

Mas enquanto a mídia e sociedade operam em silêncio, 25 brasileiros tiram a própria vida todos os dias, segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV). Em todo o mundo, a cada 40 segundos uma pessoa se mata, com sérios impactos para até 10 pessoas próximas.
A boa notícia é que até 90% dos casos podem ser prevenidos, caso haja condições mínimas para oferta de ajuda profissional ou voluntária, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Isso a imprensa precisa abordar.
Em junho desse ano o Facebook desenvolveu em parceria com o CVV, uma ferramenta para prevenção do suicídio a partir da seguinte premissa: quem pensa em cometer suicídio pode sim emitir sinais de alerta e deve receber ajuda.
Falar sobre suicídio em todos os setores da sociedade é fundamental para ampliar o acesso ao conhecimento sobre o assunto, e ainda evitar novas ocorrências.Com ajuda profissional, apoio de amigos, familiares e com solidariedade, muitos casos podem ser prevenidos.
Trazer o tema para um debate público por meio da imprensa de forma coerente, responsável e sem sensacionalismo é válido para diminuir o preconceito em relação a quem precisa de ajuda.Não deve ser tabu.É urgente.
*Jornalista e acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário UnirG (Gurupi-TO)