João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em sociologia e professor da UFT; atua com projetos em cinema e educação.
O ano de 2015 terminou deixando marcas profundas na nossa sociedade e na nossa democracia ainda tão frágil. Ficou evidente a briga severa entre os partidários da situação e a oposição e, também entre a direita e a esquerda; todos sabem que direita e esquerda situação e oposição não são a mesma coisa; isto é, não representam a mesma coisa; o cidadão pode ser de esquerda e está no governo, de modo que vai representar a situação e pode ser de direita e está na oposição, como podemos perceber no caso brasileiro.
Mas o que pretendo aqui é mesmo tratar da grande polarização estabelecida nos últimos anos na política nacional entre o PT e o PSDB, especialmente a partir das últimas eleições presidenciais.
Com a derrota da oposição liderada pelo PSDB na pessoa de Aécio Neves o chamado terceiro turno ainda não terminou, e sabe-se lá quando terminará um dia. A onda golpista liderada pelos caciques da oposição se tornou avassaladora, inclusive apoiada claramente pela chamada mídia conservadora.
Diante dessa realidade o país tem vivido dias difíceis, marcado pelo acirramento de posições políticas e ideológicas, pelo intolerância e por ações tipicamente fascistas; Também não tem faltado xingamentos diversos e até agressões físicas propagadas pelos partidários de diferentes lados. Do lado da chamada direita raivosa tem chamado a intenção não apenas a intolerância, mas principalmente atitudes desrespeitosas e eivadas de preconceito, de racismo e de ignorância.
Também não faltam posições contraditórias e sem noção; por exemplo, a oposição tem em suas lideranças uma folha corrida de falcatruas, processos por corrupção, intolerância e desrespeito as quais são no mínimo estranhas e vergonhosas alguém com um currículo negativo desse se colocar como inimputável e como guardião da moral e da ética. Os fatos têm demonstrado pouco a pouco que a mascara se sustentou por pouco tempo, de modo que logo apareceram as denúncias de corrupção envolvendo os políticos da oposição que estão na onda golpista. Aliás, as principais lideranças do movimento pró-impeachment estão envolvidas em esquemas como fraudes, sonegação e corrupção.
Agora, o que dizer da esquerda? É fato que tem havido uma perseguição constante, principalmente por parte da mídia, aos políticos e militantes da esquerda; também é notório que na esquerda existem pessoas e políticos que até o momento tem mostrado seriedade, muito embora apresentem também lá suas ambivalências; mas, o que mais chama atenção na esquerda ainda é sua fragmentação e desunião entre os seus.
A história da esquerda no mundo tem lá suas contradições e, pasmem, os grandes inimigos da esquerda tem surgido do seu próprio meio; são exemplos a acirrada briga de posições entre Marx e o lendário anarquista Bakunim, os desentendimentos envolvendo Bruno Bauer e Marx e Karl Grun, entre outros.
No caso dos desentendimentos entre os militantes da esquerda no Brasil a história está repleta de exemplo; só para citar alguns, comecemos pelo jurista Helio Bicudo, este que foi um dos importantes fundadores do PT hoje é um dos seus principais algozes, pois é dele o pedido de impeachment que está tramitando no congresso com o apoio da oposição; ainda na esquerda não se pode esquecer de Fernando Gabeira e do senador Aluísio Nunes; ambos foram guerrilheiros, inclusive o Aluísio Nunes, segundo informações foi motorista de Mariguela nas ações da ALN.
Hoje Gabeira se mostra um esquisito senhor com discursos que no mínimo só contribuem para tornar o caldo mais grosso contra a própria esquerda. Já Aluysio Nunes (hoje PSDB) foi denunciado que teria recebido algo em torno de 500 mil de uma empresa envolvida no esquema da lava jato, mas que ele jura que não é a mesma coisa do PT. Ainda tem a Senadora Marta Suplicy, que durante longos anos foi uma ativa militante do PT e hoje está no PMDB e com o discurso cheio de ressentimento contra o PT e contra o governo.
Diante do exposto não tenho dúvidas que as posições levadas a cabo pela oposição e pelos seus seguidores com discurso de ódio e de desrespeito só evidenciam atitudes fascistas as quais não podem ser ignoradas. Importante também lembrar que numa democracia todos devem o direito de ter seus posicionamentos, todavia, não significa que se deva aceitar atos de intolerância, de desrespeito, de racismo, fascismo, homofobia e similares que vão contra os direitos humanitários .
Todo o discurso de ódio contra apenas um partido, que também é alimentado pela mídia tradicional não condiz com democracia, a civilidade e com a educação esperada, principalmente por parte daqueles que se colocam acima do bem e do mal.
Por fim, diante dessa realidade triste é fundamental que todos tenham bom senso para perceber que essa visão maniqueísta por parte dos partidários da esquerda ou da direita não leva a nada, a não ser a tornar as coisas mais difíceis.
A dialética nos ensina que não há nada puro em um fenômeno, seja ele de que natureza for (física, política, social, cultural, religiosa, etc); nenhuma pessoa é somente boa ou somente má; é certo que existem aqueles que podem apresentar um grau de maldade que supera alguma virtude que possa ter, contudo, sua forma de ser tem alguma coisa a ver com o seu contexto e com sua história de vida; mas é claro que nada pode justificar uma pratica de tortura, por exemplo, seja lá de quem quer que seja.
O que estou querendo dizer é que é preciso ter bom senso para falar com conhecimento de fato sobre aquilo que defende. Por outro lado, ninguém tem a solução de todos os problemas que a humanidade, o país ou mesmo a pessoa em si enfrenta. Se existissem soluções milagrosas a humanidade toda já teria se curado devido a tudo que já passou e considerando exemplos de grandes figuras que fizeram de alguma forma a diferença, a exemplo de Cristo, Gandhi, Luter King, Maria mãe de Jesus, Joana D’arc, Maria Quiteria ( Brasil, 1792- 1853), Barbara de Alencar, entre outras.
Por fim, o mundo não é nem pode ser só de direita ou só de esquerda, uma vez que tudo é constante vir a ser; portanto, o que temos, que chamamos de realidade, é um processo continuo que envolve o fenômeno ou a coisa em si, seu oposto/contradição e disso resulta em alguma coisa. Mas claro que nada surge do nada, de modo que o indivíduo é o sujeito da história e o mundo é uma arena de embates constantes, assim como é a vida desde o processo de fecundação de cada um de nós.
Lutemos então com respeito e dignidade.