Por Henrique Matthiesen
Nada é mais verídico, indiscutível e plausível do que a mediocrização da classe política, seja em qualquer esfera: direita, centro ou esquerda. O fato é que vivemos em uma era desértica, onde o baixo clero, a descompostura, o raso e o embusteiro tornaram-se normas quase sem exceções.
A submissão ao like, à lacração, ao espetáculo grotesco e à baixeza civilizatória são práticas constantes das excelências. Este fenômeno não é uma exclusividade tupiniquim; atinge de maneira avassaladora todo o globo terrestre, talvez porque a Terra não seja plana.
As origens deste declínio podem ser analisadas com o fim da utopia, a renúncia gradual de uma visão de mundo, a transformação da política em negócio, a catequização conformista, a perpetuação hereditária dos clãs e a escassez de exemplos inspiradores. A formação política, o discernimento crítico e a maturação militante perderam espaço.
É inoportuno e contraproducente para os partidos políticos que orbitam na lógica eleitoral deste sistema excludente. Algum tipo de contestação, o discurso da mudança e as reivindicações são meras falácias para que tudo permaneça igual para a manutenção inabalável do sistema. O fato é que a mediocridade alimenta e sustenta o sistema. Mudam-se os personagens, mas o enredo e o roteiro permanecem os mesmos.
Nos bastidores, negócios e mais negócios, projetos infrutíferos, planos inexequíveis e demagogia circunscrita de hipocrisia nos discursos vazios.
Não há mais acepção plena do grande debate. Não existe o orador culto, eloquente e emocionante. Os embates são meras adjetivações de insultos, deselegância e incivilidades. As visões de Estado e povo estão extintas, e a política, como ciência e meio de construção cidadã de emancipação soberana, encolheu-se.
Coexistimos com negacionismos inimagináveis, com teses desprovidas de qualquer lastro científico, sociológico ou filosófico. Bestas-feras ganham cada vez mais popularidade: a exaltação grotesca tem preferência nos lugares de fala, e a soberba e a arrogância marcham neste teatro de horrores.
Concretos são os retrocessos – fruto podre – deste apequenamento da política. Basta observar as edificações arquitetônicas da política de Brasília. As Assembleias Legislativas e os poderes executivos nos Estados corroídos de mediocridades e aberrações, chegando às municipalidades com os ocos projetos e ideias.
Entretanto, diz o ditado: “se esta classe política é ruim, espere pelas próximas eleições, a tendência é piorar e muito.”
Henrique Matthiesen é Formado em Direito e Pós-Graduado em Sociologia