Por Wesley Silas
Parte dos 2 mil médicos que participaram do processo de Revalidação de Diplomas de Medicina expedidos por instituições estrangeiras pela Unirg começaram a chegar a Gurupi. Eles estão organizados e buscam uma resposta da reitora da Unirg que defende o revalida pela forma ordinária e diz que segue a decisão do Conselho Superior Acadêmico da IES (CONSUP), do qual ela é presidente, de que o caso só será definido após “decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para então deliberar se tal requisito irá permanecer ou não.
Enquanto o assunto é postergado, em busca do apostilamento, os médicos prometem movimentar o início desta semana para sensibilizar a academia.
“Alguns contratempos aconteceram nesse meio tempo, e o tão sonhado apostilamento foi se distanciando. Com isso vieram as frustrações, a tristeza e até mesmo o desespero. Desse cenário nasceu uma união, uma linda união, onde nós MÉDICOS nos unimos em prol de um RESPEITO, em prol de um apostilamento, não pense que foi fácil, escutar de pessoas preconceituosas que não temos capacidade, ou que queremos o mais fácil ou até mesmo que queremos forçar algo, eu mesmo já chorei por diversas vezes, trancada no meu quarto. Quando as contas chegam o desespero bate, pois eu sei da minha capacidade, tenho força para trabalhar, estudei para isso, e o pior, o Brasil tem carência de médicos, no Tocantins faltam médicos, e por puro preconceito sou impedido de trabalhar”, disse Ana Carolina Freire de Souza em carta enviada ao Portal Atitude.
Confira abaixo a íntegra da carta:
MANIFESTAÇÃO PACÍFICA E ORDEIRA
Através desta venho saudar a todos os moradores de Gurupi, e a todos que de alguma maneira fazem parte da UNIRG, nos UBmed somos MÉDICOS formados em universidades de excelência, por isso somos integrados ao ARCOSUL. Não viemos hoje falar de nossos direitos, pois é sabido por todos que somos amparados por lei, hoje queremos falar com você morador de Gurupi. Toda história tem os dois lados, talvez você tenha sido apresentado apenas para um lado, por isso venho aqui falar em nome de todos os médicos que direta ou indiretamente vão se fazer presente amanhã na sua cidade. Tudo começou a quase um ano atrás, quando a UNIRG emitiu uma nota técnica, e o nosso tão sonhado apostilamento estava cada vez mais perto, na minha casa já comemorávamos e fazíamos planos de findar o ano de 2022 no plantão nosso de cada dia, ajudando a salvar vidas. Alguns contratempos aconteceram nesse meio tempo, e o tão sonhado apostilamento foi se distanciando. Com isso vieram as frustrações, a tristeza e até mesmo o desespero. Desse cenário nasceu uma união, uma linda união, onde nós MÉDICOS nos unimos em prol de um RESPEITO, em prol de um apostilamento, não pense que foi fácil, escutar de pessoas preconceituosas que não temos capacidade, ou que queremos o mais fácil ou até mesmo que queremos forçar algo, eu mesmo já chorei por diversas vezes, trancada no meu quarto. Quando as contas chegam o desespero bate, pois eu sei da minha capacidade, tenho força para trabalhar, estudei para isso, e o pior, o Brasil tem carência de médicos, no Tocantins faltam médicos, e por puro preconceito sou impedido de trabalhar. Quando esse desespero batia, tínhamos uns aos outros para nos fortalecer e Deus usava por muitas vezes um de nós para falar e nos apoiar, infelizmente no meio do caminho alguns não aguentaram a pressão e tiraram sua própria vida, neste momento eu até utilizo deste espaço para fazer uma homenagem aos meus colegas que não resistiram e se foram, sei que onde estiverem essa luta é por vocês também.
Um juiz não vai me dizer se eu tenho capacidade de ser médico, quem diz isso é a universidade, o juiz só vai dizer que a universidade precisa avaliar se tenho essa capacidade. E a universidade avaliou e me colocou como apto em seu sistema.
A partir daí começou, de maneira controversa, uma discussão incabível sobre a segurança jurídica, se o judiciário mandou a universidade me avaliar, e ela avaliou, por que não posso trabalhar? Daí tiveram alguns movimentos por parte da faculdade inclusive uma reunião na qual alguns de nós se fizeram presente, mas não puderam opinar, tivemos que escutar calados pessoas preconceituosas falando ao nosso respeito.
Então por essas e por outras que nos organizamos e decidimos que precisávamos mostrar a todos de Gurupi que nós somos MÉDICOS, que estamos APTOS e que precisamos trabalhar, e de forma linda e organizada começamos a mobilização, quem podia dar 5 reais doou 5 reais, quem tinha mais doou mais, quem podia ir para a manifestação foi, quem não tinha dinheiro para ir, abrimos vaquinha e de uma maneira linda conseguimos vários seguidores que vão nos representar em Gurupi. Quem não conseguiu ir está em orações e na equipe de apoio, tentando pedir mais contribuição de outras pessoas. E nos fortalecemos e fortalecemos nossa fé com essa união.
O fato é que desde ontem estão chegando em Gurupi MÉDICOS de todos os cantos do Brasil, norte, nordeste, sul, sudeste e centro-oeste, com um objetivo claro. Estão decidindo o nosso apostilamento, então que nos escutem, se estão falando de maneira preconceituosa, que nos deixem mostrar o outro lado, que se não estão cumprindo a lei, que se cumpra. Por isso viemos aqui agradecer a todos de Gurupi, pela recepção que já estamos tendo desde ontem, e afirmar a toda a população em geral que estamos aqui somente para sermos escutados, somos MÉDICOS, respeitamos o próximo, e exigimos respeito. Temos muito a contribuir com a saúde de todo o Brasil, queremos, podemos, estamos amparados por lei, e avaliados pela UNIRG.
Aproveitando o momento e o espaço, gostaria de agradecer a todos os médicos que se uniram de uma maneira linda, mas toda a união parte de um começo, e todo o começo é o mais difícil, então gostaria de homenagear esses MÉDICOS, que organizaram tudo, que tiveram noites sem dormir e que escutaram muitas inverdades e mesmo assim sempre mantiveram a classe, que mesmo divergindo de ideias sempre mantiveram o respeito, e se hoje a união está fazendo a força é por causa de vocês, Alessandra L. Lodis, André Medeiros, Danubia P. N. dos Santos, Danubia P. Neves, Fernando S. dos Santos, Maisa V. piqui, Jonatan S. de Jesus, Simone da C. Silva, Thalyane S. oliveira, Rondon Júnior e Wesley G. Santos, no meio do caminho alguns tiveram perdas como no caso do Fernando que perdeu seu pai. Fernado queria te abraçar agora e dizer que teu pai está muito orgulhoso de você onde ele estiver, assim como eu tenho um puta orgulho e admiração por ti. Aproveito o momento para homenagear a todos os outros pais que tiveram suas vidas ceifadas, que partiram e não tiveram a oportunidade de verem seus filhos de jaleco ajudando salvar vidas, esses pais que muitas das vezes deram todo o salário do mês para a formação dos seus filhos, na esperança de que eles viessem atuar como médicos e salvar vidas. Por esses pais que nós estamos aqui presentes também, pois eles se foram na esperança de verem seus filhos revalidados. As meninas que têm filhos, que precisaram vender alguns utensílios do lar, para poder viajar, e ir em busca do tão sonhado apostilamento, vocês que por muitas vezes foram luz no caminho de muitos, e que continuam a frente na certeza de que venceremos juntos. É bom ser guiados por vocês, e que bom que temos vocês, então agradeço a cada um MÉDICO, na pessoa de vocês.
Convido a todos os moradores de Gurupi a se sensibilizarem com nossa causa, e participarem de nossos manifestos pacíficos que ocorrerão na cidade, na segunda feira dia 29 e na terça feira dia 30. Ademais, estaremos aqui dispostos a dialogar e mostrar o nosso lado a todos os moradores de Gurupi e a toda a equipe de docentes e discentes da UNIRG.
Ana Carolina Freire de Souza