Por Gil Correia
Dois casos de racismo aconteceram no futebol tocantinense na semana passada. Um foi denunciado. O outro ocultado. O primeiro aconteceu na partida entre Gurupi x Interporto, 24 de março, quando um tresloucado cidadão, se é que ser assim chamado, totalmente transtornado, ofendeu o treinador Luis Carlos, chamando-o de macaco, além de chamar os jogadores de vagabundos, entre outros adjetivos.
Este ficou ocultado. Não foi relatado para o árbitro Luciano Santos e nem pelo quarto árbitro, João Sales, que pela geografia do estádio, fica sempre entre os dois bancos de reserva destinados aos clubes. E o alambrado fica nas costas dos jogadores e comissão técnica, a menos de dois metros de distância.
Porque não foi relatado não se sabe, mas o que se sabe é que esse cidadão, conhecido por todos é um empresário, que vive pacatamente todos os dias da semana, em seu escritório, na sua loja, vendendo seus produtos.
Mas que se transforma, como se possuído estivesse, quando adentra ao estádio de futebol, transformando-se na pior espécie de ser humano. Tira a capa de cidadão e entra o agitador, encrenqueiro, desagregador, cheio de razão, dono da verdade, que fica a destilar suas decepções e neuras, seus fracassos diários e a falta de mansidão e paz de espírito em outros trabalhadores, que estão fazendo suas atividades, que nem sempre agrada ao “pacato cidadão”. Sem contar a motivação alcoólica, vendida livremente nos estádios.
Claro que o futebol, e, especialmente o futebol, tem essa peculiaridade. De fazer com que as paixões aflorem e muitas situações envolvam brigas, confusões generalizadas em nome dessa paixão, que acontece em todo o Brasil e pelo mundo. Mas não se pode compactuar com isso, de forma alguma.
Acima do resultado, está o ser humano. Acima da vitória ou derrota, está o trabalhador, seja ele do elenco de jogadores ou da comissão técnica, que estão defendendo seu pão de cada dia, como todo e qualquer brasileiro. E que precisa ser respeitado. Criticas são permitidas, mas ofensas, não. Ainda mais ofensas raciais.
Não foi relatado, mas que fique o alerta. O Grêmio de Porto Alegre foi eliminado de uma competição nacional no ano passado, justamente pela confusão envolvendo o goleiro Aranha, quando jogava pelo Santos, que foi “elogiado” com o termo macaco pela torcida gremista.
O lateral Alberto, do Interporto, também recebeu os mesmos “elogios” na partida do seu time contra o Guaraí, de um grupo de ditos cidadãos imbecilizados, travestidos de torcedores, quando ia cobrar um lateral pelo lado das arquibancadas.
Em Guaraí, foi denunciado e relatado na súmula, embora o autor ou autores não tenham sido identificados, mesmo com a presença policial no local. O tribunal de justiça desportiva tocantinense deve tomar medidas severas e punir com rigor, para que não se repita e sirva de alerta para outros clubes, visando coibir essas atitudes. Até porque com ações desse nível e com torcedores desse quilate, o futebol tocantinense não vai crescer, pela conivência e descaso com a gestão e profissionalização do nosso esporte. Mas aí é outra conversa.